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Porque estamos gordos
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PORQUE ESTAMOS GORDOS?

Porque estamos gordos?

A obesidade é um problema crescente em todo o planeta, chegando a proporções epidémicas em alguns países, tal como o nosso. 

Dados do INE publicados em 2015 dão conta de que mais de metade (52.8%) da população adulta tem excesso de peso e que o aumento afetou essencialmente mulheres. 

O excesso de peso não se prende somente com uma questão estética, mas com uma clara diminuição da esperança média de vida de quem sofre desta patologia. Assim, a mesma deverá ser abordada, por doentes e profissionais de saúde, como um problema de saúde potencialmente grave e que necessita de intervenção para ser travado.

É evidente que todos sabemos que comer excessivamente e não fazer exercício engorda, mas antigamente ninguém tinha estes problemas, os nossos avós nunca nos falaram de tal condição nem havia qualquer preocupação com estas questões, falavam sim da escassez de alimento e da fome que passavam, sendo um festim quando tinham um pedaço de pão com molho de sardinha, quentinho e a sair do forno.

Então, o que mudou e porque é que estamos tão pesados agora?

Quando falamos da questão da obesidade, é importante compreender a nossa evolução enquanto espécie na Terra. Dessa forma, conseguimos perceber porque é tão fácil engordar hoje em dia. 

O nosso organismo necessita de abastecimento energético contínuo para manter as suas funções metabólicas normalizadas, mesmo quando não existe alimento disponível constantemente. Assim, para resolver esta questão e permitir a nossa sobrevivência sem estar 24 horas a comer, a evolução deu-se no sentido de desenvolver mecanismos de armazenamento energético no nosso organismo. Estes mecanismos, altamente eficientes, retiram toda a energia possível do alimento que ingerimos durante a digestão, armazenando automaticamente aquela que não vai ser utilizada no momento. Neste complexo processo, o alimento é transformado essencialmente em triglicéridos como forma de energia. Estes triglicéridos são transportados para os adipócitos, que são usados como armazéns.

Desta forma, o nosso corpo consegue dar resposta aos momentos em que necessitamos de jejuar sem comprometer o livre curso dos mecanismos metabólicos necessários à sobrevivência, estando sempre disponível energia em qualquer momento. 

Este processo aparentemente controlado pelos genes ‘Thrifty’ (económico em português) – teoria avançada pelo geneticista James Neel em 1962 quando estudava a Diabetes Mellitus – era uma clara vantagem para os nossos antepassados paleolíticos que eram caçadores/coletores e não tinham alimento em abundância. A existência desta carga genética permitia a sobrevivência por longos períodos de jejum. Além disso, possibilitava a gestação em ambiente escasso em alimento, selecionando naturalmente os referidos genes e transportando-os para o nosso genoma nos dias de hoje, mesmo que em alguns indivíduos se expressem mais do que noutros. 

Aparentemente não há qualquer problema, exceto o facto de se ter vivido uma profunda alteração no ambiente em que vivemos hoje, onde claramente o problema não é a escassez de alimento, mas sim a abundância e o fácil acesso ao mesmo. Aliado a isso, para obter os alimentos, não temos necessidade de grande esforço/consumo energético, característico do sedentarismo que vivemos hoje. A mudança foi tão rápida no tempo, que o nosso genoma não se adaptou às novas condições ambientais. Ou seja, as pessoas continuam a ter um eficiente sistema de armazenamento energético, que outrora se revelava crucial na sobrevivência. No entanto, nos dias de hoje está a tornar-se um problema.

alimentaçao e obesidade
A alimentação abundante e o sedentarismo são grandes responsáveis pelo excesso de peso da população

 A obesidade e a regulação do peso corporal

A OMS define a obesidade/excesso de peso como uma anormal ou excessiva acumulação de gordura corporal que diminui a qualidade de vida do individuo. É avaliada através de um índice, que relaciona peso e altura e se define como IMC – Índice de massa corporal. Muitos especialistas defendem que este índice é um pouco limitado, dado que a nossa massa corporal não é só gordura. No entanto, este é o parâmetro aceite universalmente para determinar se uma pessoa tem ou não excesso de peso e, apesar das limitações, apresenta uma boa correlação com outras medições de gordura corporal.

O IMC é calculado dividindo a massa corporal (Quilogramas) pelo quadrado da altura (Metros), IMC= Peso(kg)/ Altura²(m).

Para adultos assume-se:

  • IMC > 25: excesso de peso
  • IMC > 30: obesidade.

É evidente que aquilo que ingerimos determina o nosso peso, dado que a acumulação advém de um desequilíbrio entre a energia que consumimos e aquela gastamos. No entanto, o processo não é assim tão simples, pois senão indivíduos com igual dieta e idêntico gasto calórico teriam exatamente o mesmo peso. O que na realidade não acontece. 

Diversos estudos demonstraram que certas pessoas com dietas hipercalóricas conseguem escapar à obesidade, demonstrando o seu corpo uma incrível capacidade de manter precisamente o mesmo peso anos a fio. Todos nós conhecemos aqueles sortudos/as que comem tudo o que lhe apetece e nunca engordam. De certa forma  invejamos essas pessoas, contudo, se as mesmas vivessem no paleolítico talvez não sobrevivessem muitos anos e as que são mais gordinhas hoje prosperavam nessa altura. 

O que se conclui destas observações é que existe igualmente uma forte carga genética na determinação do nosso peso corporal, sendo que algumas pessoas são mais propensas a engordar do que outras e os comportamentos alimentares devem ser ajustados ao metabolismo de cada um.

A Leptina

De entre os vários protagonistas moleculares envolvidos no intrínseco processo metabólico que define o nosso peso corporal, existe um que ocupa o papel principal nesta regulação – a leptina. 

Esta hormona é segregada pelo tecido adiposo quando há reservas energéticas em abundância, dando indicações ao nosso cérebro – mais precisamente ao Hipotálamo – de que não é preciso comer mais e que pode gastar energia, pois as reservas estão satisfeitas e podem ser mobilizadas. 

Da mesma maneira, quando esta hormona circula em pouca concentração no nosso sangue, passa a mensagem ao cérebro de que tem que aumentar as reservas e diminuir o consumo energético, elevando assim o aporte de gorduras ao tecido adiposo. 

A leptina atua assim como um fiscal das reservas e informa o comando central, que depois atua em conformidade, fazendo-nos sentir saciados ou com fome consoante a situação. Acredita-se que alterações na produção/sensibilidade deste regulador hormonal possam potenciar o aumento de peso. 

Sabe-se igualmente que existe uma considerável variabilidade entre indivíduos no que concerne à sensibilidade da Leptina e que pacientes obesos apresentam resistência à ação deste regulador, ainda que o mesmo exista em concentrações elevadas no sangue, à semelhança do que acontece com a insulina na Diabetes Mellitus tipo 2. 

No entanto, o processo de controlo energético do nosso organismo é tão complexo e envolve tantos mediadores, que seria muito redutor apontar a responsabilidade deste problema só para um deles.

Diz-se comummente que a obesidade é a doença mais fácil de diagnosticar e das mais difíceis de tratar, precisamente por apresentar uma origem multifatorial. Isto obriga a que o tratamento apresente uma abordagem igualmente global para ser bem-sucedido, o que o torna bastante moroso e desafiante. 

Na verdade, não é só uma patologia que se está a tratar, mas sim um estilo de vida a ela associado. Se não sabe o seu IMC facilmente pode avaliá-lo numa balança de qualquer farmácia. Faça o teste, e se o valor estiver acima de 25 (kg/m²) está na altura de atuar! 

Mexa-se pela sua saúde e procure o seu médico/nutricionista que seguramente o poderão ajudar.


Artigo da autoria de:

Sónia Rocha
Diretora Técnica Farmácia Rodrigues Rocha
Bióloga, Farmacêutica e Mestre em Dermofarmácia e Cosmética
In Diário de Aveiro – Página da Ciência

Celulite
CategoriesNarrativas do Almofariz

CELULITE – PREVENIR E CUIDAR

CELULITE – PREVENIR E CUIDAR

O estigma da celulite

Quantas nádegas teremos mais que ver na televisão, outdoors, cartazes, cartonagem de cremes, panfletos e demais meios de divulgação a publicitar milagres contra a celulite?

Certamente que os leitores neste momento já estão a visualizar a clássica imagem de um rabinho jeitoso. Adornado por uma tanga modesta, uma perninha ligeiramente inclinada, o que imprime um ar natural à posição e realça os tonificados glúteos. E, claro, revestidos de uma pele lisa e morena, sem qualquer sinal de imperfeição. Está mesmo a ver, não está?

A celulite é provavelmente um dos distúrbios físicos mais explorados comercialmente. A mensagem é sempre a mesma: para obter este semblante, é só passar o creme e já está! Mas claro que não é. Para debelar a celulite há que a conhecer um pouco melhor e fazer um bocadinho mais de esforço para além da aplicação do cosmético.

O que é a celulite?

A celulite caracteriza-se por uma alteração do tecido adiposo, que compõe grande parte da hipoderme – camada mais profunda da pele.

Este tecido é essencialmente constituído por adipócitos, células responsáveis por armazenar gordura e isolar o corpo do frio.
O fenómeno da celulite acontece quando este tecido apresenta maior capacidade de lipogénese – captação/armazenamento de gordura – do que de lipólise – capacidade para a libertar/consumir.
Mas as razões para isto acontecer não estão ainda totalmente conhecidas.

Porque temos celulite?

É um processo cuja fisiopatologia não está bem definida. Ou seja, na prática, nenhum clínico descreve bem que fatores é que estão envolvidos no processo, e, dos que estão, quais são os mais preponderantes.

Sabe-se, no entanto, que fatores hormonais, genéticos, alimentares, circulatórios e até mesmo de postura podem ser significativos e portanto são esses fatores que se tentam controlar quando se trata de tratar ou prevenir esta condição.
Ao contrário do que é vulgarmente assumido, a celulite não está só associada ao excesso de peso nem só ao sexo feminino. Pessoas magras também podem sofrer deste distúrbio, assim como os homens.

Celulite nas mulheres

Nas mulheres, a celulite é considerada um caractere sexual secundário quando é pouco marcada, não sendo encarada como uma patologia. Observa-se mais facilmente nas mulheres porque naturalmente possuem mais adipócitos. Localizam-se especialmente no ventre, glúteos e coxas. Estas células de gordura apresentam-se separadas por septos perpendiculares à superfície da pele, que penetram até à derme.
É esta arquitetura do tecido adiposo feminino a responsável pelo aparecimento do aspeto “pele casca de laranja”.

Celulite nos homens

No entanto, este efeito na pele não acontece nos homens. O seu tecido adiposo apresenta menos adipócitos e, além disso, estão ordenados em tabiques oblíquos à superfície da pele. Este ordenamento masculino das células gordas não origina os clássicos sulcos cutâneos que caracterizam o aparecimento da celulite. Porém, não significa que os homens não a possam igualmente desenvolver. Só que apenas é visível em casos muito graves de distúrbio hormonal.

As fases de desenvolvimento

Por convenção, considera-se que a celulite se desenvolve em várias etapas. Os períodos podem ir de alguns meses a vários anos, sendo que, na prática, nem sempre se consegue definir tão bem os limites de cada fase.

Fase I – Sem manifestações clínicas. Verifica-se somente uma diminuição da circulação venosa e linfática, o que resulta numa acumulação de líquidos nos adipócitos.

Fase II – Aparecimento da pele “casca de laranja”, em resultado da acumulação de edema, por diminuição quase total do fluxo sanguíneo. Existe já alguma deterioração do tecido dérmico e hipodérmico. No entanto, o comprometimento ainda é somente estético.

Fase III – Começam a formar-se depósitos de colagénio reticulado entre os aglomerados de adipócitos. Isto provoca esclerose de algumas zonas da hipoderme. Os problemas circulatórios agravam-se ainda mais e estamos perante a fase de início de uma patologia.

Fase IV – Os depósitos de colagénio transformam-se em nódulos duros. Estes comprimem os vasos sanguíneos e as fibras nervosas, dando origem a uma dor permanente. A celulite, neste caso, já é considerada uma patologia.

Tratamento e Prevenção

Como já foi aqui abordado, os fatores que desencadeiam o aparecimento da celulite podem ser diversos e nem sempre estão bem definidos. No entanto, existe consenso entre os especialistas quanto ao principal objetivo que se deseja atingir quando queremos combater a celulite: Ativar a Lipólise.
Ou seja, potenciar a degradação da gordura acumulada no tecido adiposo e diminuir a lipogénese.

Prevenir

A melhor forma de o fazer é praticando exercício físico aeróbico, como caminhada, corrida e/ou bicicleta. Isto vai obrigar o corpo a desmobilizar a gordura dos adipócitos para a queimar no tecido muscular.

Ao mesmo tempo, este aumento de exercício físico potencia a irrigação sanguínea nas zonas de gordura. Assim, permite também eliminar líquidos e toxinas que aí se encontram acumuladas por falta de drenagem.

Celulite - Prevenir e Tratar
Andar de bicicleta, correr ou caminhar são excelentes exercícios no combate à celulite.

Tratar a Celulite

 

Medicamentos

 

Os tratamentos farmacológicos também existem, mas hoje em dia são bastante desaconselhados tendo em conta os efeitos secundários que podem advir da sua utilização.

 

Medicamentos tais como anfetaminas, hormonas da tiróide, diuréticos e enzimas, entre outros, já foram amplamente utilizados para forçar o organismo a consumir a gordura acumulada, mas não são recomendados ou recomendáveis.

 

Quando é necessária a sua indicação, esta deverá acontecer sempre sob vigilância médica e nunca sem a mesma, pois existe o risco de provocar alterações metabólicas que pode, em alguns casos, ser fatal.

 

Cosméticos tópicos

 

A aplicação de produtos cosméticos pode potenciar um claro melhoramento do aspeto da pele, suavizando, refirmando e alisando a mesma

 

Se estes produtos apresentarem boa qualidade em termos de ingredientes e a sua aplicação acontecer de forma sistemática, pode apresentar resultados bastante positivos nos casos de celulite leve a moderada.

 

Ingredientes importantes neste tipo de cosméticos são:

 

  • Cafeína (cerca de 4%): forte poder lipolítico
  • DHAO ou esfingosídeos: diminuem a entrada de glucose para os adipócitos
  • Rutosídeos: antagonistas da glicose
  • Protamina: inibe a lípase, proteína importante na lipogénese
  • Centelha asiatica, Retinol e Erva cavalhinha: refirmantes.

Suplementos alimentares

 

O uso de suplementos alimentares é permitido e é amplamente publicitado. No entanto, a sua eficácia é um pouco limitada. Por norma são usadas plantas que apresentam propriedades diuréticas e lipolíticas:

 

  • Alcachofra
  • Bambu
  • Laranja amarga
  • Boldo
  • Cardo Mariano
  • Garcinia Cambogia
  • Erva cavalinha
  • Matricaria
  • Ortosifão, entre outras.

Tratamentos Corporais

 

Os tratamentos localizados tais como as massagens, drenagens linfáticas entre outras, têm uma ação mecânica. Potenciam a mobilização das gorduras acumuladas e o aumento da circulação venosa e linfática nas zonas mais afetadas.

 

Podem ser também uma opção válida para diminuir o aspeto casca de laranja da sua pele e preparar o seu corpo para o verão.

 

A sua auto-estima é importante mas é igualmente importante escolher uma forma racional de combater a celulite, essencialmente cuidando da alimentação e fazendo exercício físico.

 

Os corpos Photoshop que aparecem na publicidade não são reais, querem criar uma necessidade excessiva de perfeição induzindo o consumo.

 

Na verdade, quem precisa efetivamente deles quando temos os nossos, bonitos e naturais?

Artigo da autoria de:

Sónia Rocha
Diretora Técnica Farmácia Rodrigues Rocha
Bióloga, Farmacêutica e Mestre em Dermofarmácia e Cosmética
In Diário de Aveiro – Página da Ciência, Março 2017

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